quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um pouco da história das cidades - parte 2

Firenze (Florença) município italiano, capital e maior cidade da região da Toscana.


Séculos de prosperidade...
A fundação da cidade de Florença data do período romano. Na época, a colônia romana desenvolveu-se graças a uma situação estratégica bastante privilegiada, próxima da afamada Via Cassia que estabelecia à ligação de Roma as regiões a norte. No século III, a cidade cresceu consideravelmente, transformando-se num importante centro mercantil. A decadência do Império Romano levou tempos agitados a Florença. Na verdade os tumultos associados às diferentes migrações dos povos germânicos trouxeram a cidade numerosos cercos e destruição.
Aos Godos e Bizantinos seguiram-se, naquele ano de 570, os Lombardos, que proporcionaram a esta cidade um interregno de paz que durou cerca de dois séculos. É, na verdade, no ano de 774, que Carlos Magno conquista a cidade de Florença, transformando-se numa parte do margraviato franco de Tuscia (Toscana), inicialmente governado a partir da cidade de Luca. A população aumentou rapidamente e, nesta altura, o comércio conheceu um novo impulso. Por fim, no ano de 854, Florença e Fiesole aliaram-se, constituindo assim um condado.
Durante o século XI Florença seria palco de reformas da Igreja, assim como do sempre crescente conflito entre autoridade papal e a imperial, que ficou para sempre conhecido como a Guerra das Investiduras.
Foi durante o governo da margravina Matilde (1046-1115), no ano de 1077, que Florença reconhecendo a autoridade papal, finalmente se separou do Império Germânico.
Durante o século XII seguiram-se inúmeras conquistas e a conseqüente submissão dos senhores feudais das regiões circundantes (condado). Em 1773 iniciou-se a construção da nova muralha da cidade, que abarcava pela primeira vez os territórios a sul do Arno. Na última metade do século XII começam, de fato, a fazer-se sentir os primeiros sinais sérios de desunião no interior da cidade de Florença. O aceso conflito entre o partido dos guelfos (os partidários do papa) e dos gibelinos (os partidários do Imperador) assombraria a historia da cidade ao longo de todo o século XIII. Os florentinos guelfos foram impiedosamente derrotados pelos gibelinos na batalha de Montaperti no desditoso ano de 1260, e a cidade atingiria o apogeu econômico no Duecento. Não é casual a imensa riqueza que a cidade consegue alcançar durante todo o século XII, baseando-se efetivamente no comércio, nas manufaturas e na produção de todos os tipos de tecido. Já no século XI os comerciantes começaram a importar lã do Norte da Europa e tintas do Mediterrâneo, bem como do Oriente. Na verdade, a produção de têxteis constituía, juntamente com a banca, um dos ramos econômicos de maior importância.
No ano de 1252 a cidade cunhou a sua primeira moeda de ouro, o chamado florim de ouro (Fiorini d’oro), que em breve se tornaria uma das moedas mais desejadas e mais estáveis de toda a Europa.
O desenvolvimento da cidade não prosseguiu, no entanto de forma tranqüila, tendo sido também marcado por bruscos contrastes durante todo o século XIV. De um lado mostrava a imensa riqueza artística e profunda atividade construtiva, mas durante o Trecento, Florença sofreu um grande número de vissitudes. A cidade viu-se assolada pela fome com uma regularidade cruel e , em 1333, foi também fustigada por cheias devastadoras. Contudo, a prova mais dura para seus habitantes foi à peste que, entre os anos de 1348 e 1349, assolou Florença. Além de todas essas catástrofes, aparentemente inevitáveis, associaram-se ainda as crises da própria cidade, derrotas militares, instituição bancária falidas, contínuas mudanças de poder, divergências políticas e inquietação social. Já no ano de 1382 se tinha formando na cidade um governo oligárquico, no seio do qual a família Albizzi assumiria o poder pleno. Na luta pela supremacia nas estruturas políticas da cidade esta família iria encontrar os seus rivais mais implacáveis nos Médicis. Giovanni de Averardo de Médicis (apelidade di Bicci) conseguiria consolidar a posição social e comercial da sua família no início do século XV. A partir do ano de 1413, os Médicis assumiriam o poder, tão lucrativo quanto proveitoso, de banqueiros oficiais do papa. Desta forma se estabeleceram as bases para a extraordinária ascensão desta dinastia que viria a dirigir a cidade de Florença, marcando o seu destino durante quase três séculos seguidos, excetuando unicamente alguns intervalos.
O período nomeado Quattrocento (século XV) foi marcado pelo renascimento, apogeu cultural, século do humanismo, cujas realizações científicas e filosófico-religiosas marcaram ate hoje a visão ocidental do mundo. A enumeração das personagens artísticas que viveram na Florença daquela época prossegue como Masaccio Brunelleschi, Donatello, Sandro Botticelli, Leonardo da Vinci até Michel Ângelo. Até os dias atuais as suas obras contam-se entre as criações mais famosas da história da arte.
Dos Médicis ao Resorgimento...
No ano de 1434, Cosme, o Velho, uma das personalidades mais importantes e fascinantes do seu tempo, assumiu o governo da cidade. Até a sua morte, em 1464, Cosme determinou o desenvolvimento político, social e cultural da cidade de Florença. O Velho transformou a cidade de Florença num centro de erudição humanista. Com o sucessor de Cosme, seu neto Lourenço (1449-1492), conhecido como O Magnífico, a Casa dos Médicis viveu os seus tempos mais gloriosos, já próximo do final do século. Contudo o filho de Lourenço, Piero, não teve a mesma sorte. Por não ter oposto a entrada do exército francês de Carlos VIII, Piero seria expulso da cidade com sua família, naquele ano de 1494.
Nos últimos anos do século XV, Girolamo Savoranola transformou-se no homem mais influente da cidade, mas seu imperturbável fanatismo levou-o a um conflito com o papa. Devido a sua radical atuação, o monge dominicano foi condenando e executado em 1498.
Depois da morte de Savoranola, Florença permaneceu primeiro sob o regime republicano liberal. Em 1502, Piero Soderini foi eleito governante vitalício da cidade pelo povo. Mas o cardeal Giovanni de Médicis, futuro papa Leão X, conseguiria retirar-lhe o poder possibilitando assim o regresso da sua família a Florença. Depois do saque de Roma pelas tropas de Carlos V os Médicis foram novamente expulsos da cidade, regressando apenas no ano de 1531. Para a cidade de Florença terminava o tempo de constituição republicana. Até 1537 a cidade viveu sob um regime aterrorizador imposto por Alexandre de Médicis, que abriu caminho para o futuro poder absolutista. Cosme, o seu sucessor de apenas 18 anos, nos seus 37 anos de reinado iniciou a atuação dos grão-duques, consolidou o poder com sucesso. Esses governaram Florença durante mais de duzentos anos, não conseguindo, contudo salvá-la da crescente decadência política, econômica e cultural do século XVII, na época da Guerra dos Trinta Anos e das crises mais violentas. Então, no ano de 1737 morre o ultimo descendente masculino da família dos Médicis, Gian Gastone, e o grão-ducato cai nas mãos dos Habsburgos-Lorena, sob cujo governo foram realizadas reformas de grande envergadura, que tiveram o mérito de modernizar a economia e o comércio, a sociedade e a justiça. No ano de 1799, a ocupação francesa obrigou os duques austríacos a abandonar a cidade de Florença e o interregno francês durou até o ano de 1815 e terminou depois do Congresso de Viena. Pouco tempo depois, com a revolução de 1848 e as guerras da Independência Italiana, os Habsburgos-Lorena vêem-se expostos a uma crescente pressão. E, finalmente em 1861 a unidade nacional (Risorgimento) é alcançada.
E nos tempos atuais...
As duas guerras mundiais e o terror do fascismo marcaram a cidade de Florença durante a primeira metade do século XX. Benedito Mussolini encontrou na metrópole do Arno duas facções, tanto partidários entusiásticos das suas idéias como implacáveis inimigos, que transformaram a cidade num verdadeiro centro da Resistência italiana. Até o ano de 1943, Florença foi felizmente pouco afetada pela destruição provocada pelas grandes guerras. Os piores estragos fizeram-se sentir, porém, no ano de 1944, as tropas de ocupação alemãs bombardearam todas as pontes sobre o Arno.
Depois de difíceis anos pós guerra, Florença transformou-se numa moderna metrópole de prestação de serviço que, como capital da Toscana, abrigava inúmeros serviços públicos, assumindo também um importante papel como cidade universal e de congresso, centro de moda e centro comercial. A cidade deve à admiração mundial a incomparável riqueza das suas obras artísticas. Tornou-se por isso um centro turístico atraindo milhares de visitantes. A sua imensa herança cultural não é apenas uma bênção; atribui-se-lhe também uma importante responsabilidade na conservação e na proteção de obras e monumentos artísticos.

FONTE: WIRTZ, Rolf: Arte e Arquitectura - FLORENÇA. Editora Könemann

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